sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

sábado, 15 de setembro de 2018

A profeta...



Numa manhã quente meu amigo chegou à minha casa todo empolgado porque iria me levar à casa da profeta que ele admirava sobremaneira! Sou muito retraído com relação a esse tipo de visita, mas não queria delir a empolgação dele e fomos.
Ao chegarmos, percebi certa burocracia para chegar até ela.
Cerca de quinze minutos depois um homem nos conduziu por alguns cômodos até chegarmos a uma espécie de sala principal. Por uma porta, em uma cadeira de rodas, uma senhora foi empurrada com muito cuidado para fora. Ela deveria ter mais de setenta anos e tinha o corpo curvado pela idade. Após um minuto, da outra extremidade, ela olhou diretamente para mim e, com um aceno, me chamou. Olhei para a meia dúzia de pessoas que estava ali comigo e o meu amigo fez um sinal afirmativo para eu ir até ela e me olhava com aquele olhar embevecido, como se eu tivesse sido abençoado com a escolha da profeta...
Fui até ela sem saber o que diria, mas ela acenou para que eu me abaixasse, pois parecia querer me segredar algo ao pé do ouvido. Aproximei-me, ela segurou meu braço com mãos trêmulas e disse, numa voz rouca e frágil:
- Pede a Deus pra eu morrer!
Olhou profundamente nos meus olhos e repetiu:
- Pede a Deus pra eu morrer! Não aguento mais isso...
Olhei para as pessoas que estavam ali comigo, mas não parecera que tinham ouvido a súplica daquela senhora! Meu olhar confuso parece ter despertado na imaginação deles que eu, provavelmente, ouvira alguma revelação sobrenatural daquela velha e alquebrada senhora.
Sem prévio aviso, fiz uma prece em voz alta, encerrei, fui até à senhora, abracei-a e disse em seu ouvido:
- Todas as coisas têm o tempo certo para ocorrer nesse vale de lágrimas...
Abracei-a, beijei-a na face e fui em direção à saída, seguido pelo meu amigo e outros que já estavam ali quando chegamos. Parei num local da casa que tinha três portas e eu não sabia qual me propiciaria a saída. Um dos homens começou a falar algo e meu amigo me disse rapidamente que era filho da profeta. Ele falava acerca de um desses cativeiros para viciados arrependidos que ele administrava em algum lugar rural de Nova Iguaçu. Falava rapidamente e logo pediu uma “oferta” para ajudar na manutenção do cativeiro para drogados. Meu amigo sacou a carteira, deu algum dinheiro... Eu não dei nada. Perguntei o endereço e pedi dicas para chegar facilmente ao lugar e saí pela porta indicada pelo filho da profeta.
No carro o meu amigo já demonstrava ansiedade para saber o que a mulher havia me dito, mas lembrei das muitas vezes em que ele mencionara aquela senhora com grande devoção:
- Ela recebe mensagens diretamente de Deus, Rhusso! – ele dizia...
Achei melhor enrolar e não dizer nada, pois não queria desiludi-lo. Fazia pouco tempo em que havíamos nos reencontrado, após cerca de quinze anos sem contato, e nas poucas vezes que conversamos ele parecia ser outra pessoa; havia esquecido o tempo das loucuras boas inerentes a jovens saudáveis que éramos! Na verdade até renegava aqueles bons tempos! Tornara-se um bolsonete e, por causa dessa nova ideologia nazista, viríamos a nos separar outra fez anos depois.
Já eu, não dou sorte com profetas modernos e decidi não perder mais tempo com pessoas como aquela mulher que estava cansada de ser usada como caça níqueis de incautos e que não conseguem entender o óbvio: tudo nesse mundo “religioso” tem a ver com dinheiro e mais nada! Deus não Se mete com esses negócios, não.


Ronaldo Rhusso


Imagem: google.



quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Contigo eu sou mais forte e tu bem sabes







Contigo eu sou mais forte e tu bem sabes...

Proteges-me e me perco de mim mesmo
e a esmo tento achar velho caminho...
Soturno não mais sou, mas não renego
os dias que, sem Sol, foram mais frios
e eu quase despenquei do meu abismo...

Procuro um novo tom, nova canção,
que faça eu me lembrar daquelas pedras
que vinham num rolar muito excitante
perantea minha face embevecida...

Querida! Tu bem sabes: és refúgio!
Regaço que me aquece e me adormece...
Assim, tão protetora, me dás força!

Parece que sem ti já não há vida
e os beijos que não sinto me sufocam...

Quisera esse monóstico trazer-te...

Lá fora a chuva força um aconchego
e o medo é bom parceiro. Ele me alerta!

Quem salva tem dever de manter vivo!
Não temas ser chantagem, mesmo sendo,
pois rendo o meu querer ao teu dispor...

Por que não desejar os meus carinhos,
se alinho esse meu tato à tua derme
e, inerme, tu tens mais porção de gozo,
enquanto a minha tez mais te deseja?

Vem cá me proteger da tua ausência
e deixa esse meu rio banhar teu istmo
até que seja tarde para o vento
que tenta separar flecha e aljava
que ficam mais bonitas quando juntas...

Contigo eu sou mais forte e tu bem sabes...

Desarmas meus silêncios. Vale a pena!
Serena, não atinas pras planícies
que foram as montanhas perigosas
das quais eu me lançava feito um louco
pra ver a cor carmim do frágil sangue...

Corri molhado em meio a tempestades
e tarde me peguei lavando a alma
sem calma, sem prelúdio para a morte
que tanto desejei, mas me salvaste...

Que queres para não partir de novo?
Renovo essa questão porque me apraz
a paz que só desfruto no teu seio...

Agora eu só apelo com sorriso,
pois siso já não tenho: sou teu, sabes...

Quisera esse monóstico trazer-te...

Muralha que não deixa a solidão
ver vão aberto para me invadir...

Querida juntos nós somos alarde!
Recordas de teu grito sem receio
ao ir comigo além de Shangrilá?

É lindo ver-te forte amazona
sem brida e num frenético trotar
por sobre o eu, corcel resfolegante,
perante o teu domínio, minha dona!

Não quero me livrar dessas catenas
Meus pulsos têm as tuas digitais
deixadas ao pedir por meus afagos
nos pomos, montes que olham para o céu
e fazem meu deleite... Como os amo!

Contigo eu sou mais forte e tu bem sabes...