Mauro tinha
uma vida muito interessante! Havia progredido na carreira e ainda estava em
franca ascensão... Marisa, sua esposa e mãe dos dois filhos, havia estado ao
lado dele nos momentos mais complicados e fizera todos os sacrifícios
possíveis. Mas Mauro ficava olhando para as “esposas” dos outros empresários
nas reuniões sociais e de negócios e passou a nutrir a vontade de desfilar com
uma garota daquelas. Não faria mal algum uma garota dessas pelo menos quinze
anos mais jovem que ele, pensava...
O problema era
o preço. Sairia caro uma separação e, provavelmente mais caro ainda, bancar os
caprichos de uma bela e jovem amante!
Porém um
vencedor não vai se acovardar com um desafio tão excitante!
Já sabia o que
fazer: daria atenção a uma daquelas meninas do escritório; de preferência
àquela loirinha de seios fartos e olhar pidão. Experimentaria a sensação de um
caso que não precisava ser amoroso e, se fosse tão bom quanto afirmavam, pagaria o preço do divórcio. A Marisa iria entender!
Ficaria magoada por um tempo, mas depois perdoaria... Por outro lado dividir o
patrimônio com quem o ajudou a ganhar não seria problema, pois havia os filhos
que no final herdariam tudo mesmo...
Entra em cena
a Maria Eduarda! Vinte e três anos de idade, escolaridade baixa, mas uma
recepcionista que era tão solícita que quem buscava informação com ela até
esquecia o que tinha ido fazer ali na M&M Empreendimentos!
Mauro escolheu
bem!
Em uma semana
de relacionamento pediu o divórcio!
Marisa quase
teve um troço! Implorava que o marido dissesse o que ela estava fazendo de
errado, no que ele queria que ela mudasse... Era uma sensação de derrota, de
culpa, de arrependimento... Veio o momento do ódio, da vontade de matar! Com
certeza havia uma vagabunda por trás de uma tragédia dessas! Estava decidido,
mataria a vagabunda!
O advogado,
amigo da família de Marisa havia arrancado mais da metade do que ambos tinham
juntos e Mauro aceitou numa boa!
Mauro estava
vivendo momentos radiantes!
Onde aquela
doçura aprendera todas aquelas habilidades na cama?
E tinha um bom
paladar para vinhos!
Não era das
que ficam repetindo roupas como uma flagelada! Não. E conhecia a procedência do
melhor de Nova York e de Milão!
O bom, pensava
Mauro, é que ela já estava com muita coisa acumulada e precisavam terminar a
obra do apartamento novo a fim de poder
organizar melhor todas aquelas coisas que compravam numa espécie de gozo para
ela e de alegria para ele, já que cada ida às compras propiciava momentos
tórridos de prazer e de uma loucura boa de sentir...
E, melhor,
Maria Eduarda o impulsionava a impressionar! Marcava sessões de massagem,
drenagem linfática, spa com direito a um bom trato nos cabelos já
embranquecidos e cansados, manicure, podólogo... Exigia que Mauro usasse ternos
e relógios caros! Aproveitava para comprar um colarzinho e alguma pulseira que
combinassem com os bons e novos relógios de Mauro! Afinal os dois deveriam
combinar em tudo!
Marisa estava
se recuperando e já não tinha mais vontade de matar. Queria apenas ver Mauro
mais ferrado do que era quando se casaram! De acordo com os filhos, pelo jeito
que as coisas estavam fluindo, ela nem precisaria se esforçar muito!
Contrariando o Contador e amigo, Mauro vinha vendendo parte do que lhe restara
da empresa e Marisa comprava tudo.
Menos de 8 meses
depois e Mauro passou da fase de felicidade extrema para a fase da preocupação!
Quem ligava tanto para Maria Eduarda e por que ela insistia que eram assuntos
de mulher e que não valia a pena enchê-lo de problemas tolos?
Mas isso era o
de menor importância! Mauro se esforçava para cuidar da saúde, tomava uns
comprimidinhos que lhe permitiam acompanhar um pouco do ímpeto sexual de Maria
Eduarda, mas ultimamente ela não parecia satisfeita... Parecia ter perdido a
criatividade. Já não fazia questão de acompanha-lo nas reuniões sociais e
mostrava-se insatisfeita com o limite imposto em seu cartão de crédito pessoal.
Mauro não queria incomoda-la com a notícia recente de que estava falido e era
mero funcionário da empresa que construíra juntamente com Marisa!
Mas Mauro já
tinha tudo sob controle! Percebera que Marisa, que agora fazia questão de
participar das reuniões com os Diretores da empresa, olhava para Mauro com
aquele brilho antigo e que lhe dava a certeza de que ela ainda o amava e não
lhe negaria um socorro. E Mauro até estava disposto a dar uma boa compensação
amorosa caso Marisa se mostrasse disposta...
No entanto não
parecera tão difícil como o imaginado por Mauro. Marisa aceitara ir com ele ao
hotel de Angra onde ambos haviam passado momentos maravilhosos! Naquela tarde
Mauro ficou encantado com a ex esposa! Ela não exigia nada! Sabia onde tocar em
Mauro e respeitava sorridente os seus limites!
Na viagem de
volta para o Rio Mauro aproveitou a expressão de felicidade na face de Marisa e
abriu o coração. Falou das dificuldades financeiras e da grande quantidade de
dívidas; falou que estava se sentindo sozinho, sem alguém para conversar e que
se envergonhava em fazê-lo, mas naquele momento precisava de uma grande ajuda
financeira de Marisa!
Ela não
demonstrou surpresa, não demonstrou qualquer mudança de humor e lhe perguntou
quanto ele queria no novo apartamento.
Mauro não
esperava por esse interesse de Marisa no único imóvel que lhe restava, mas
concluiu que Marisa ainda o amava, iria lhe ajudar, mas, diferentemente de
Maria Eduarda, não queria mexer com seus brios. Preferia que fosse uma ajuda
mascarada pela compra de seu apartamento e permitiria que ele continuasse a
viver lá, afinal Marisa parece ter dado mais sorte do que ele porque mais que
triplicara os bens, enquanto ele se distraíra e perdera tudo.
Era uma boa
saída! Vendeu o apartamento para Marisa que nem pechinchou e agora poderia usar
sua experiência para um recomeço. Com todo o know how acumulado atingiria o
sucesso muito mais rápido que antes!
Chegou em casa
feliz e ao entrar no quarto viu sua jóia, a Maria Eduarda chorando e todas as
gavetas espalhadas pelos cantos do quarto! Chegou a pensar que foram
assaltados!
Ela com aquela
voz maravilhosa repetia: “ – Não é você! Sou eu”!
“- Eu vou
embora da sua vida porque você não é mais feliz e apenas tenta me agradar! Eu
não mereço um homem tão bom quanto você! É uma questão de honra não mais
fazê-lo infeliz! Vou embora! Já levei quase tudo para o antigo apartamento onde
eu morava! Não precisa me dar mais nada”!
Mauro estava
desesperado! Chorava feito uma criança surrada!
Implorou de
todas as formas e não vendo outra saída propôs irem passar uns dias em Milão, a
cidade dos sonhos de Maria Eduarda e, só depois, falariam em separação se ela
ainda quisesse!
Maria Eduarda
abraçou bruscamente o pescoço de Mauro e gritou: “- Jura, meu amor”?
No dia
seguinte Mauro mandou buscar as coisas que ela já tinha levado e foram juntos
pesquisar o melhor roteiro para essa viagem que incluiria Paris e Roma. Era uma
pequena e justa exigência de Maria Eduarda!
Um mês de
viagem e o dinheiro da venda do
apartamento escorreu pelo ralo da compulsão em comprar futilidades...
Maria Eduarda
não tocara mais no assunto separação e Mauro apelaria novamente para a
generosidade, fruto do grande amor de Marisa.
Ao chegar à
empresa descobriu que seu cartão de acesso ao elevador privativo não estava
funcionando e nem lembrava como acessar seu espaçoso escritório através dos
elevadores comuns.
O
cartão também não dava acesso à sua sala particular e a nenhum dos ambientes
que lhe eram exclusivos.
Foi avisado de
que Marisa chegaria em algumas horas e queria falar com ele.
Horas de
espera observando o ritmo de trabalho no andar em que ele comandou por tantos
anos, estava impressionado por não lembrar ter visto um movimento frenético
assim antes...
Mais tarde
frente a frente com Marisa, Mauro a examinava e ela parecia ter rejuvenescido!
Não tinha mais aquelas marcas de falta de sono. Parecia ser uma mulher madura
sem marca alguma de agrura!
Marisa foi
direta:
“ – O que mais
me impressionou em você foi a coragem de se aventurar dessa forma, como se
fosse um menino inexperiente! Tenho certeza de que valeu a pena, Mauro! Eu
mesma tenho recebido os afetos do meu “personal trainner”! Não preciso pagar
mais que o bom salário dele! Tenho mesmo que lhe agradecer por ter me dado esse
presente! Já redigi, de próprio punho uma Carta de Recomendação para que você a
apresente em alguma empresa que possa reconhecer o seu talento! Eu já vi do que
você é capaz e não vou arriscar meu patrimônio. Para mim as outras empresas são
concorrentes, de maneira que vai ser ótimo tê-lo em uma delas”.
“ – Mas você
não pode estar falando sério! E todo o suor que derramei para criar essa
empresa”?
“ – Espero que
tenha secado no frio da Europa nesse seu longo passeio! Os dois helicópteros da
empresa já são meus e se você quiser vender seu carro eu pago bem. Estou
pensando em dar de presente... Agora preciso ir, pois tenho horário com meu “personal”.
Você tem um mês para desocupar o apartamento e não se preocupe com sua “joia preciosa”
porque, de acordo com informações fidedignas, ela já tem outro trouxa para
arrancar o couro. Mais uma vez lhe agradeço por me ensinar a ser feliz depois
de tanto tempo”!
Tem que amar a estupidez
pra deixar sua metade
e gozar de uma beldade
que lhe arrancará a tez
e a saúde de uma vez!
Capim novo custa caro
e para manter, não raro,
é preciso ter um sócio
que aquecerá o negócio
e será um bom “amparo”
quando precisar do ócio
na alcova, pois divórcio
não passa de um anteparo
quando o cabra é velho e avaro
e se engraça com uma rês
que lhe abestalha de vez
e lhe tira a sanidade.
Digo sem temer verdade:
Tem que amar a estupidez!
Ronaldo Rhusso
http://www.arcaliteraria.com.br/mexendo-com-divorcio/