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terça-feira, 9 de julho de 2013

Repente no Facebook


 
Ronaldo Rhusso:

Qual tás tu, mestre Camelo?
Eis que as preces vão subindo
e teu fã aqui pedindo
novas qual anjo sem sê-lo...
Haverá alguém com zelo
a dizer de teu estado?
Que por D’us ‘tejas cuidado,
mas ainda entre nós
teus alunos que a sós
teus versos têm ansiado?
 
Qual tás tu, Paulo, o doutor
dos versos padronizados;
dos Sonetos rebuscados?
Tu que rimas dor e ardor;
rimas gris com viva cor;
que compões com grande astúcia
versos para Carmen Lucia 
quem por trás do doutor mestre
forte e rara qual cipreste
livra-o de toda súcia...
 
Qual tás tu, há quem o diga?
Estás só convalescendo
com a mente aquecendo
dando fruto feito espiga
cujo grão bonito instiga
a criar com maestria
verso que faz noite dia?
Ou será que teu estado
inspira maior cuidado?
Temo eu e a Poesia...
 
Paulo Camelo:

Eu estou quase sarado,
amigo Ronaldo Rhusso.
Me dói somente se eu tusso
a cicatriz. Já curado,
eu ando pra todo lado,
mas não corro, ainda, não.
Pra dirigir, meu irmão,
minha família não deixa,
mas essa é só uma queixa
que eu deixo logo de mão.
 
Uma hernioplastia
é cirurgia pequena.
O anestesista - que pena! -
quase não ganhou. Eu via
quase tudo, eu não dormia
- ou imaginava assim -
tudo passava por mim
e eu ouvia quase tudo.
Em dez minutos, contudo,
tudo chegou a seu fim.
 
E agora, ainda parado,
sete dias de licença,
não há ninguém que convença
ficar apenas deitado.
Não vou ser equiparado
a um carro na oficina.
A medicina me ensina
que o exercício me ajuda.
Num instante tudo muda,
assim diz a medicina.
 
Ronaldo Rhusso:

Tu és forte, és cientista!
Sabes do melhor cuidado;
sabes que ficar deitado
pra dormir há quem resista,
mas saúde logo dista
se é vã a permanência,
visto dizer a Ciência 
que o leito em via extensa
mata mais do que a doença
ou promove a indolência.
 
Resta agradecer a D’us,
grande cientista mor,
que nos conhece de cór
(somos todos filhos Seus,
crentes ou mesmo os ateus).
Ele cuida, Ele doutrina
e concede cada sina
tanto quanto suportamos.
Há na alma dos humanos
a essência, sim, divina!
 
Já que vejo, e de bom grado,
que te recuperas bem
em uníssono o Amém
com o anjo do teu lado
é meu “silencioso brado”!
Vamos, então, adiante
nesse versejar grimpante,
pois se pára a Poesia
vai-se junto a alegria;
vai-se o belo doravante...
 
Paulo Camelo:

Poesia eu sempre tenho
mas me falta inspiração
de vez em quando, ou então
já não é forte o engenho.
Entanto, nisso me empenho
e adiante eu vou andando,
mesmo agora, mesmo quando
a inspiração me faltou.
dou a volta e alço voo
e vou-me embora voando.
 
Ronaldo Rhusso: 

Inspiração é donzela
envolvida em timidez
que reluz, tem bela tez,
mas esconde-se da tela.
Não se da em passarela,
mas na mente do poeta,
ei-la tenra e irrequieta
saltitando qual menina
que sua parte mais fina
não esconde, não, não veta!
 
Paulo Camelo:

Inspiração é também
a espera da estrela guia,
ver estrela à luz do dia,
e não correr de ninguém.
Inspíração é um bem
que a todos nós, quando falha,
a mente logo embaralha
e o lápis pesa na mão.
Mas me chega a inspiração
e eu caio na mesma malha.
 
Inspiração me transforma
em um menino, um moleque.
Eu vejo Marli Bulek
e insisto na velha norma:
aqui ninguém se conforma
em vê-la longe de nós.
Não tem contra, só tem prós
e você de voltar trate.
Poeta do seu quilate
é raro, ouça essa voz.
 
Ronaldo Rhusso:

Já eu trago essa danada
em rédea curta demais
ela, então, me satisfaz
qual me fosse enamorada,
nunca ficando amuada...
No entanto a mente acusa:
“essa moça é quem me usa”!
E eu aqui, pobre iludido
vou rimando repetido
em Redondilha difusa!
 
Nilza Azzi ...

“que compões com grande astúcia
versos para Carmen Lucia 
quem por trás do doutor mestre
forte e rara qual cipreste
livra-o de toda súcia...”
 
Estes versos ficaram perdidos lá no início do repente, mas em minha opinião são uma pérola.
 
Paulo Camelo:

E a redondilha eu sustento
e vou além - penso: quase! -
para chamar Nilza Azzi
e ela meu pensamento
já leu e nesse intento
veio antes que eu chamasse.
Poeta de muita classe
é assim: chega depressa.
Não é àquela. É a essa
que eu cuido não me embarace.
 
Nilza Azzi:

Chamou, entanto eis-me aqui!
gritando qual bem-te-vi,
ao defender território.
Junto a talento notório,
nem sei que faço da vida,
mas sou muito empedernida,
se me assopram, vou c’o vento.
 
Ronaldo Rhusso: 

Marli Bulek acompanha
e Nilza Azzi elogia.
Essa tem co’a Poesia 
amizade e muita manha!
Pois eu digo: não se acanha
quando o caso é um Repente!
Ela demonstra pra gente
que tem toque imensurável
versejando irretocável
pondo pra longe o plangente!
 
Nilza Azzi:

Sim, é fato, eu digo, quase,
não passo uma hora ou dia,
sem tratar co’a poesia,
sem dela me aproximar.
Ela tem o seu lugar
de honra, é a companheira
e, se leva a dianteira,
só não me ganha do amor.
Digo isso, sim senhor,
pois o Amor é a minha eira.
 
Ronaldo Rhusso:

Desembesto e vou rimando
Matando dor e saudade
Porque a vida é brevidade
Não se cansa, vai passando
Enquanto fica-se olhando.
Eu na serra vendo o mar
E esse frio a me “queimar”,
Mas sou grato e com ardor,
Porque quando vem calor
Não consigo suportar!
 
Paulo Camelo:

Só não me deixou a arte,
porque esse tal de engenho
- inspiração - eu não tenho
há muito tempo. Destarte,
eu olho pra toda parte
e a procuro pra voltar,
chamo, imploro, tomo ar
e vou chamá-la de novo.
Quem sabe um fôlego novo
eu encontro? Vou tentar.
 
Nilza Azzi:

Doutor Paulo, pois que atente,
que logo retoma o jeito
e faz um verso de efeito,
daqueles que ninguém faz
com tanto jeito e nos traz
enlevo pelo improviso...
Esqueça um pouco o juízo
e trabalhe no descanso
mande pra longe esse ranço,
pois repentear é preciso.
 
Paulo Camelo:

Que jeito que eu vou tomar,
se não me chega a danada,
se já não escrevo nada
que me agrade? Vou tentar
outra vez, pra não parar,
mas é difícil dizer
que essa tal quer fazer
algo comigo. E eu com ela
também quero fazer trela,
mas não sei se vou poder.
 
Ronaldo Rhusso:

Tentativa sucedida
Muito bem eu reconheço!
Tu tens dela grande apreço,
Visto ser a tua vida.
Poesia é tua guarida
Forte, certa... É companheira!
Não te deixa na traseira
Dessa lida às vezes dura
E outras vezes com ternura.
Poesia é mãe primeira!
 
Nilza Azzi fala forte
porque tem a valentia
em rima que, luzidia,
lhe traz muso por consorte
e, eis, escreve por esporte!
Eu aqui esmerilhando
minha mente vou rimando
lembrando tempo bonito
que deixava o infinito
mui mais perto, mui mais brando...
 
Paulo Camelo:

Mui mais perto, mui mais brando,
mui mais forte, bem o sei.
Vocês dois fazem a lei
e eu, por meu lado, contando
as vezes em que meu comando
me deixa escrever assim.
Um repente é mais um fim
que eu dou à inspiração.
Nilza e Ronaldo, esses não
têm problemas, fazem, sim.
 
Nilza Azzi:

O problemas logo esqueço:
repente tá no meu sangue,
como o lodo está no mangue...
Vacilando no começo,
logo acerto, o estro aqueço
e, embora meio sem treino,
nas rimas pobres me embrenho,
mas não ligo muito, não...
O que vai no coração
me vale, é tudo que tenho.
 
Paulo Camelo:

Nilza Azzi começou
mas retirou o seu verso.
Creio eu que esteja imerso
em um mistério. Esse eu vou
esperar que saia. Estou
há muito tempo escrevendo
e a mente vai encolhendo
e já não sai quase nada.
O que é que eu faço, danada,
pra não fazer mais remendo?
 
Ronaldo Rhusso: 

Fazemos como impelidos
Por impulso diferente
Que nos faz um c’o repente
E nos deixa estarrecidos!
Poetas ensandecidos,
Ávidos pelo rimar
Sonho com realizar,
Riso com a tempestade,
Choro com linda amizade,
E esmero com amar!
 
Nilza Azzi:

O que faz um bom repente
é sempre essa liberdade
e nos julgar, ninguém há-de,
por nosso impulso e avidez...
O que se aprende uma vez,
como andar de bicicleta,
na poesia é como seta;
na memória fica inscrito
e, se o poema é bonito,
o leitor jamais nos veta.
 
Ronaldo Rhusso: 

O que faz um bom repente,
Dou a minha opinião,
É pegar o sol co’a mão
E beijar a Lua ardente.
É pensar tão diferente
Que deixe escandalizado
Esse mundo apavorado
Com as guerras e conflitos.
Nós soltamos nossos gritos
E eis o mundo iluminado!
 
Paulo Camelo:

E chegou a minha vez:
O que faz um bom repente
a sustentar essa gente
em frente à tela? Estes três
escrevem tanto e - talvez -
escrevam mais e melhor
sem esquecer, bem de cor,
tudo que nos vem à mente.
O que nos faz um repente?
Faz isso tudo... e melhor!
 
Paulo Camelo, Ronaldo Rhusso e Nilza Azzi