Certa vez, não faz muito tempo, eu precisava
urgente ir de Paraty à Ubatuba e cometi o erro grave de ir com um amigo e sua,
então, namorada.
Ambos muito jovens, embora adultos, porém,
ele preto e ela de pele clara e feições muito sérias!
Ocorre que há um Posto da PRF conhecido por
ser bastante rigoroso na volta, ou seja, sentido Ubatuba/Paraty.
O erro grave consistiu em eu saber que
nenhum dos dois era habilitado e fui, assim mesmo, no banco do carona.
Fomos sem problemas com o jovem dirigindo,
tranquilamente.
Resolvi tudo rápido e voltamos, mas ao nos
aproximar do referido
Posto da PRF, eu disse:
- Brother! Troca de lugar com ela e vai lá
para trás!
Ele:
- Pra quê?
- Você é preto! Eles vão nos mandar parar e
vai dar ruim porque na melhor das hipóteses irão prender o carro do seu pai,
aplicar uma multa soberana, só liberarão o veículo para alguém habilitado e
ainda dará trabalho e despesas para retirar daquele pátio lá nos fundos do
Posto!
- Acha que vão nos parar só porque eu sou
preto? Você não diz sempre que eu sou um cara muito bonito?
- Sim, você é muito bonito, mas é preto e eu
não acho que irão nos parar, eu tenho certeza!
Ele se sentiu muito ofendido porque estava
me fazendo um favor e eu disse aquelas coisas acerca da cor da pele dele.
Menino muito bom, educado, vaidoso pra caramba!
Mas me obedeceu.
Em meu toba não passaria nem Wifi e fiquei
fazendo exercícios respiratórios sem que percebessem.
Já com a menina ao volante, passamos devagar
e ainda acenei para os policiais que não nos pararam.
O rapaz estava doido para voltar ao volante
uns quilômetros depois e eu disse:
- Calma! vamos mais à frente.
Ele estava agoniado e, do nada, mas muito do
nada, mesmo, uma viatura saiu de uma das muitas curvas em nosso encalço e
pareou ao nosso lado sem parar!
Eu só disse à menina:
- Respira devagar e vamos continuar
conversando, naturalmente...
Os PRF não fizeram sinal algum, mas,
simplesmente, ficaram mais uns seis quilômetros pareados conosco.
Não sei como a menina, que era inexperiente
ao volante, conseguiu ficar tão tranquila e sorridente com as besteiras que eu
ia falando para distraí-la, mas eu estava numa tensão monstra!
Erro estúpido!
Após nos pressionar psicologicamente por uns
6 quilômetros ou mais, pareados conosco em uma estrada tão deserta em dias de
semana, o PRF ao volante acelerou o potente veículo deles e, em segundos,
sumiram em nossa frente!
Nem lembro se os jovens chegaram a trocar de
lugar antes de chegarmos em casa, mas lembro que, inconformado com o que eu
disse, o jovem decidiu arriscar outra vez, porém com outras pessoas porque eu
me desculpei muito por ter incentivado dirigir sem a habilitação...
Óbvio que ele foi parado, esculachado e
humilhado, o carro apreendido, multado,...
Eu sou branco pra caramba porque raramente
tomo Sol e polícia alguma nunca me parou!
Aliás, minto, com outro amigo, esse
habilitado, houveram três abordagens:
A primeira foi na Ilha do Governador em uma
blitz em que estavam parando todos, sem exceção! Eu não sabia, mas a
documentação do carro do brother estava "atrasada" em alguns meses.
O PM prendeu os documentos por alguns
minutos e, em seguida, perguntou se nós queríamos "desenrolar"!
Eu disse:
- Sem chance! Cumpra sua obrigação.
Ele, que nem nos mandou sair do veículo:
- Tem certeza? Prefere, mesmo, todo o
aborrecimento?
- Não vamos lhe subornar. Esse cara que está
ao meu lado, inclusive, é meu líder religioso e, se ele lhe der dinheiro, o
denunciarei.
O PM ficou possesso, jogou os documentos
dentro do carro e mandou a gente vazar logo dali, o que fizemos rapidamente!
A segunda foi em Campo Grande! Um calor
terrível, gente igual a formiga ali no centro e eu fiquei no carro, enquanto
ele foi comprar uns materiais de trabalho.
Um PM chegou muito nervoso e disse:
- Não pode parar aqui!
- Por que, não? - Perguntei.
- Essa área tá reservada.
Conferi se era local proibido e não era. De
onde eu estava dava para ver a menos de cinquenta metros, alguns carros parados
em fila dupla, outros em faixas e eu disse:
- Sargento! E aqueles lá?
- Não se mete no meu trabalho! Vai saindo
logo daqui!
- Devido ao perigo de assaltos eu pedi ao
brother para levar as chaves e até esqueci que sem elas não daria para ligar o
ar-condicionado.
O policial surtou!
- Mas que k#$%#! Se eu voltar em meia hora e
você ainda estiver aqui vai dar ruim!
E sumiu.
Antes da meia hora do prazo dele, eu estava
lendo alguns panfletos dentre as dezenas que me entregaram ali, enquanto
esperava (eu pego tudo que é panfleto para ajudar, mas jogo no lixo sem olhar,
porém naquele dia eu li quase todos)...
- Você ainda tá aqui? Tá querendo zoar o meu
plantão?
Dessa vez eu fiquei em silêncio apenas
olhando para o servidor público que pegou um bloco de papel, começou a rabiscar
alguma coisa e, como estávamos regulares, nem liguei!
Meu amigo, finalmente, chegou, viu a
encrenca e eu disse:
- Não dá atenção e vamos embora! Liga esse
ar porque estou derretendo.
Deixamos o representante da lei falando
sozinho, contei o que aconteceu, meu amigo deu risadas e fomos embora!
A terceira vez foi em Santa Teresa, perto do
Hospital Silvestre, para onde eu estava levando uns resultados de exames!
Minutos antes, ainda na Avenida Brasil,
passamos em um buraco e o vidro do retrovisor do lado do motorista trincou e
num buraco mais à frente, quebrou de vez e caiu parte na via...
Já lá em cima um Sargento com um bafo de
cachaça soberano nos parou. Estava sozinho numa viatura. Ele nem tinha visto o
problema com o retrovisor e já veio pedindo "desenrolo"!
Falei:
- Estou indo para o Silvestre e tenho
horário marcado. Se puder ser rápido...
Ele ficou andando ao redor da S10 e viu o
retrovisor sem o vidro...
- É motivo para apreensão do veículo!
E ficou querendo o arrego para liberar
logo...!
Eu disse:
- Não vai rolar.
- Vou prender o veículo!
- Beleza! Vou chamar um taxi. Tem como me
dar uma carona na viatura para eu não perder o horário?
O cara pareceu ter batido em uma parede
invisível e ficou com a boca aberta me olhando incrédulo...
- Carona até o hospital? Tá de sacanagem
comigo a uma hora dessas? Vazem logo e não passem mais por aqui.
Voltamos pela Vista Chinesa, ali no Mirante
Dona Marta, que considero o lugar mais bonito do Rio e resolvemos o retrovisor
na Barra...
Se fôssemos pretos alguma dessas três
histórias acabaria assim?
Ronaldo
Rhusso
Folhinha Poética