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domingo, 20 de abril de 2025

Não há racismo?

Certa vez, não faz muito tempo, eu precisava

urgente ir de Paraty à Ubatuba e cometi o erro grave de ir com um amigo e sua, então, namorada.

Ambos muito jovens, embora adultos, porém, ele preto e ela de pele clara e feições muito sérias!

Ocorre que há um Posto da PRF conhecido por ser bastante rigoroso na volta, ou seja, sentido Ubatuba/Paraty.

O erro grave consistiu em eu saber que nenhum dos dois era habilitado e fui, assim mesmo, no banco do carona.

Fomos sem problemas com o jovem dirigindo, tranquilamente.

Resolvi tudo rápido e voltamos, mas ao nos aproximar do referido
Posto da PRF, eu disse:

- Brother! Troca de lugar com ela e vai lá para trás!

Ele:

- Pra quê?

- Você é preto! Eles vão nos mandar parar e vai dar ruim porque na melhor das hipóteses irão prender o carro do seu pai, aplicar uma multa soberana, só liberarão o veículo para alguém habilitado e ainda dará trabalho e despesas para retirar daquele pátio lá nos fundos do Posto!

- Acha que vão nos parar só porque eu sou preto? Você não diz sempre que eu sou um cara muito bonito?

- Sim, você é muito bonito, mas é preto e eu não acho que irão nos parar, eu tenho certeza!

Ele se sentiu muito ofendido porque estava me fazendo um favor e eu disse aquelas coisas acerca da cor da pele dele. Menino muito bom, educado, vaidoso pra caramba!

Mas me obedeceu.

Em meu toba não passaria nem Wifi e fiquei fazendo exercícios respiratórios sem que percebessem.

Já com a menina ao volante, passamos devagar e ainda acenei para os policiais que não nos pararam.

O rapaz estava doido para voltar ao volante uns quilômetros depois e eu disse:

- Calma! vamos mais à frente.

Ele estava agoniado e, do nada, mas muito do nada, mesmo, uma viatura saiu de uma das muitas curvas em nosso encalço e pareou ao nosso lado sem parar!

Eu só disse à menina:

- Respira devagar e vamos continuar conversando, naturalmente...
Os PRF não fizeram sinal algum, mas, simplesmente, ficaram mais uns seis quilômetros pareados conosco.

Não sei como a menina, que era inexperiente ao volante, conseguiu ficar tão tranquila e sorridente com as besteiras que eu ia falando para distraí-la, mas eu estava numa tensão monstra!

Erro estúpido!

Após nos pressionar psicologicamente por uns 6 quilômetros ou mais, pareados conosco em uma estrada tão deserta em dias de semana, o PRF ao volante acelerou o potente veículo deles e, em segundos, sumiram em nossa frente!

Nem lembro se os jovens chegaram a trocar de lugar antes de chegarmos em casa, mas lembro que, inconformado com o que eu disse, o jovem decidiu arriscar outra vez, porém com outras pessoas porque eu me desculpei muito por ter incentivado dirigir sem a habilitação...

Óbvio que ele foi parado, esculachado e humilhado, o carro apreendido, multado,...

Eu sou branco pra caramba porque raramente tomo Sol e polícia alguma nunca me parou!

Aliás, minto, com outro amigo, esse habilitado, houveram três abordagens:
A primeira foi na Ilha do Governador em uma blitz em que estavam parando todos, sem exceção! Eu não sabia, mas a documentação do carro do brother estava "atrasada" em alguns meses.

O PM prendeu os documentos por alguns minutos e, em seguida, perguntou se nós queríamos "desenrolar"!
Eu disse:

- Sem chance! Cumpra sua obrigação.

Ele, que nem nos mandou sair do veículo:

- Tem certeza? Prefere, mesmo, todo o aborrecimento?

- Não vamos lhe subornar. Esse cara que está ao meu lado, inclusive, é meu líder religioso e, se ele lhe der dinheiro, o denunciarei.

O PM ficou possesso, jogou os documentos dentro do carro e mandou a gente vazar logo dali, o que fizemos rapidamente!

A segunda foi em Campo Grande! Um calor terrível, gente igual a formiga ali no centro e eu fiquei no carro, enquanto ele foi comprar uns materiais de trabalho.

Um PM chegou muito nervoso e disse:

- Não pode parar aqui!

- Por que, não? - Perguntei.

- Essa área tá reservada.

Conferi se era local proibido e não era. De onde eu estava dava para ver a menos de cinquenta metros, alguns carros parados em fila dupla, outros em faixas e eu disse:

- Sargento! E aqueles lá?

- Não se mete no meu trabalho! Vai saindo logo daqui!

- Devido ao perigo de assaltos eu pedi ao brother para levar as chaves e até esqueci que sem elas não daria para ligar o ar-condicionado.

O policial surtou!

- Mas que k#$%#! Se eu voltar em meia hora e você ainda estiver aqui vai dar ruim!

E sumiu.

Antes da meia hora do prazo dele, eu estava lendo alguns panfletos dentre as dezenas que me entregaram ali, enquanto esperava (eu pego tudo que é panfleto para ajudar, mas jogo no lixo sem olhar, porém naquele dia eu li quase todos)...

- Você ainda tá aqui? Tá querendo zoar o meu plantão?

Dessa vez eu fiquei em silêncio apenas olhando para o servidor público que pegou um bloco de papel, começou a rabiscar alguma coisa e, como estávamos regulares, nem liguei!
Meu amigo, finalmente, chegou, viu a encrenca e eu disse:

- Não dá atenção e vamos embora! Liga esse ar porque estou derretendo.

Deixamos o representante da lei falando sozinho, contei o que aconteceu, meu amigo deu risadas e fomos embora!

A terceira vez foi em Santa Teresa, perto do Hospital Silvestre, para onde eu estava levando uns resultados de exames!

Minutos antes, ainda na Avenida Brasil, passamos em um buraco e o vidro do retrovisor do lado do motorista trincou e num buraco mais à frente, quebrou de vez e caiu parte na via...

Já lá em cima um Sargento com um bafo de cachaça soberano nos parou. Estava sozinho numa viatura. Ele nem tinha visto o problema com o retrovisor e já veio pedindo "desenrolo"!

Falei:

- Estou indo para o Silvestre e tenho horário marcado. Se puder ser rápido...

Ele ficou andando ao redor da S10 e viu o retrovisor sem o vidro...

- É motivo para apreensão do veículo!

E ficou querendo o arrego para liberar logo...!

Eu disse:

- Não vai rolar.

- Vou prender o veículo!

- Beleza! Vou chamar um taxi. Tem como me dar uma carona na viatura para eu não perder o horário?

O cara pareceu ter batido em uma parede invisível e ficou com a boca aberta me olhando incrédulo...

- Carona até o hospital? Tá de sacanagem comigo a uma hora dessas? Vazem logo e não passem mais por aqui.
Voltamos pela Vista Chinesa, ali no Mirante Dona Marta, que considero o lugar mais bonito do Rio e resolvemos o retrovisor na Barra...

Se fôssemos pretos alguma dessas três histórias acabaria assim?

Ronaldo Rhusso

Folhinha Poética

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Conjecturas...


 
Se o mar está sereno, a mente, então, tranquila,
Cavila o pobre tolo; ostenta sua ilusão.
Diz não a tempo ameno; obtuso se perfila.
Desfila em tosco rolo; aumenta a solidão!

Razão não lhe é forte. Entorna a letargia.
Vazia a mente pena; acode ao definhar...
Deixar de ser consorte, envida a euforia.
Se um dia rouba a cena, a fala 'suja' o ar.

Estar não lhe conforma; então o que fazer?
Viver pensando em 'ter'? Por que deixar de 'ser'?
Sorver o que transtorna, evoca insensatez.

Se a tez, por sí, deforma é que chegou a vez.
Freguês do corromper só colhe o mais sofrer.
Querer ter mais que ser é triste! É de doer!



Gostaria, ainda de brincar com esse Alexandrino, pois, apenas para uma questão didática o verso Alexandrino tem doze sílabas poéticas e é dividido em dois hemistíquios de seis sílabas, cada:
'
Ex:
'
Se-o mar es tá se re no,/ a men te,- en tão, tran qui la.
'
1......2...3..4..5..6.......1..2...3....... 4....5....6
'
'
Se contarmos até a sexta sílaba de cada hemistíquio e pularmos para o verso seguinte poderemos ler dois poemas independentes hexassilábico.
'
'
Pode parecer complicado ou impertinente, mas essa construção foi trabalhada de forma que, seja no todo, ou na dicotomia de hemistíquios, o texto verse acerca da controvérsia entre Parmênides e Heráclito.
'
'
Sempre que construo um texto busco alguma contextualização e me pergunto se esses "detalhes" são percebidos. Todos os dias percebo que estou num Grupo novo e não me faço de rogado, escrevendo ou repetindo postagens nessas dezenas de Grupos e ainda não lí qualquer comentário onde essa minha prática fosse percebida...

'

'
Por que estou comentando isso?
Primeiro por falta de sono nesses instante e depois, porque sinto que a minha mensagem não é passada por completo...
Só isso!
'
Então a dicotomia ficaria assim:
'
1o HEMISTÍQUIO:
'
Conjecturas...
'
Se o mar está sereno,
Cavila o pobre tolo;
Diz não a tempo ameno;
Desfila em tosco rolo;
'
Razão não lhe é forte.
Vazia a mente pena;
Deixar de ser consorte,
Se um dia rouba a cena,
'
Estar não lhe conforma;
Viver pensando em 'ter'?
Sorver o que transtorna,
'
Se a tez, por sí, deforma
Freguês do corromper
Querer ter mais que ser....
'
'
2o HEMISTÍQUIO:
'
'
Conjecturas...
'
a mente, então, tranquila.
ostenta sua ilusão.
obtuso se perfila.
aumenta a solidão!
'
Entorna a letargia.
acode ao definhar...
envida a euforia.
a fala 'suja' o ar.
'
Então o que fazer?
Por que deixar de 'ser'?
evoca insensatez.
'
é que chegou a vez.
só colhe o mais sofrer.
é triste! É de doer!



Ronaldo Rhusso