quarta-feira, 1 de março de 2023

Fragmentos - Gessica Menino


 




Fragmentos da Géssica Menino (Editora TAUP [Toma Aí Um Poema] – 2022) me chegou às mãos num momento onde as muitas pausas a fim de refletir por estar vivo, apesar de ter contraído o vírus da Covid19 duas vezes, tem sido lugar comum na minha existência e, sinceramente, estou escrevendo essa Resenha muito por causa da forma cativante com que a autora descreveu 105 pequenos fragmentos desse período angustiante para a Humanidade (refiro-me aos humanos, mesmo, não incluo os bípedes desemplumados e despidos desse abstrato ao qual chamamos de amor).

O livro é leve no sentido agradável de contar poeticamente (essa talentosa escritora empregou uma carga filosófica muito significativa nesses fragmentos) de forma que demonstra um olhar puro, cheio da realidade sentida e, com certeza, embebido de uma clareza que muitos de nós não tivemos ou não teríamos se quiséssemos relatar fatos que servirão como Documento para a posteridade acerca desse troço chamado Pandemia.

O Prefácio do Nicolas Pelicioni aborda em si os fragmentos numa quase definição do livro e eu o pulei de propósito para ver se concordaria ao conferi-lo apenas no final da leitura e esse meu exercício estranho, mas bastante contumaz, me levou a crer que o Pelicioni deu uma versão muito interessante da alma poética da Géssica, me fazendo pensar um tanto mais no jeito gentil que ela usa para abordar o corriqueiro com sobriedade e com a sutileza dos que usam a Cronologia de forma benéfica para tornar o livro não somente agradável, mas, sobejamente instrutivo.

No fragmento 2 – piolhos – eu fiquei pensando nessa fase que é capaz de a geração atual desconhecer, mas que nós, pelo menos eu, vivenciei... As mães chamavam os filhos, assentava e nos punha entre as pernas protegidos, aconchegados e passavam a examinar cada ponto de nossas cabeças em busca desses parasitas que nos sugavam e que nos ensinavam que o verbo compartilhar indiscriminadamente é muito mais antigo que o costume internauta. Passar piolho era uma demonstração de proximidade que a Pandemia “deletou”. O cuidado das mães passou a ser quase desnecessário nesse sentido e o vírus da morte bloqueou uma antiga tradição de estar grudadinho em quem se ama...

Cada Feriado, data festiva ou especial mencionada escorre pelas páginas sendo que os fragmentos se tornam uma unidade de, por assim dizer, catalogação importante e necessária de fatos, receios com misturas de outros sentimentos sob os quais nos identificamos e, ainda bem, que nas encruzilhadas dessas Redes Sociais eu acabei cruzando com essa autora a quem admiro e que me fez ver como é bom a gente conhecer gente, cujo toque em nossas vidas é de “gente”, mesmo!



Escolher o fragmento 47 para ilustrar a contracapa foi um toque magistral, pois ali estão questionamentos muito pertinentes e as respostas, creio eu, estão dentro de cada um de nós sobreviventes dessa guerra que não escolhemos travar e, sinceramente, eu recomendo essa leitura a todos que gostam de ver verdades sob um olhar diverso em Crônicas Poéticas que nos fazem pensar na posição que ocupamos nesse planetinha azul... Quem é você? Venha se descobrir nesses Fragmentos da Gessica Menino!






quinta-feira, 29 de setembro de 2022

E os doces?

 Esse costume de "correr atrás de doces" de São Cosme e São Damião foi um marco na minha infância.

Meu preferido era o "suspiro". Eu juntava um montão e comia bem devagar para não acabar logo.
Uma tia minha morava na Penha em frente ao Parque Ari Barroso, onde eu gostava de brincar.
Tinha um pessoal que fazia uma espécie de tapete de balas "juquinha" no gramado. Era do santo, diziam...
Como eu sabia que o santo, para ser santo, deveria ser gente boa, catava tudo.
Tirava a camisa, dava nós nas mangas e fechava a gola... Virava uma sacola, onde eu enchia de balas.
Minha mãe, quando me via rico daquelas balinhas gostosas, gritava:
- Menino, diacho! Não pode pegar porque é do santo!
Ali em frente ao Museu que incendiaram para roubar umas peças únicas e raras, na Quinta da Boa Vista, a galera fazia tapetes enormes de balas de tamarindo!
Eram azedinhas e eu ficava com a boca ardendo de tanta afta!
Alguém dizia:
- Tá vendo? Foi o santo!
Um dia, quando em um dos turnos eu estudava no Colégio Atlas, fui fazer um trabalho escolar na casa de um coleguinha num morro e, quando estava descendo pra Botafogo, vi uma galera mirim correndo para pegar doces e os segui por aquelas vielas sem fim.
A mulher estava entregando os saquinhos através do muro.
Subi rápido com minhas pernas de garça e ganhei o meu!
Comi logo aquela geleia gostosona, as marias moles e os suspiros. As balas, bananadas e "drops" eu deixava para depois.
Vi que um guri menor não conseguia subir no muro e eu subi outra vez para puxá-lo. Tinha que ser rápido porque as centenas de saquinhos acabavam logo!
Ele conseguiu um e a mulher veio me dar outro, mas eu disse: Moça! Eu já ganhei.
Ela sorriu e disse:
- Pode pegar outro e nunca deixe de ser honesto.
Voltei feliz para o local combinado onde a minha mãe iria me buscar para voltar pra casa e nunca esqueci a frase daquela moça bonita vestida de branco e com um monte de colares no pescoço...
"Nunca deixe de ser honesto"!
Hoje demonizaram esse Costume lindo e o "santo" aconselha aos gritos:
"Sonegue tudo o que puder"!
Outros "santos" adoram o "santo sonegador e perpetuador de centenas de crimes"...
Que diferença daquela moça com um sorrisão, tipo o Sol, me falando com carinho:
"Nunca deixe de ser honesto"...
Por isso eu, se estiver vivo, vou votar 13.
Eu opto sempre pelo amor!
Pela honestidade e carinho pelo meu povo.
Votar 13 é pegar pela mão os menores, ignorantes, que não conseguem alcançar a importância do doce para todos...