Das
brincadeiras e lições...
Chamavam
o meu primo de segundo grau de “Toinho”. Lembro bem dele, um garoto de uns 13
anos sem medo de nada e muito engraçado! Eu tinha 8 anos, estudava no Diocesano
D. Eduardo havia poucos meses e o plano era ficar em Ilhéus.
Tem um
Rio, o Itacanoeira, cujo percurso se faz apenas em Ilhéus, formando um delta
com o Rio Cachoeira e o Rio Santana antes de chegar ao mar via Baía do Pontal
numa foz e, na outra, desaguando no mar do Norte, ali na Barra do Itaípe num
brevíssimo flerte com o Rio Almada.
Eu
costumava seguir o “Toinho” e seus amigos até o Seminário São Jorge dos Ilhéus,
no Fundão, entrávamos na mata, cortávamos toras de bananeira, os meninos mais
fortes colocavam pedaços de galhos numa das extremidades de cada tora para que
se parecesse com um guidão e íamos levando-as até uma ponte ali perto, da qual
pulávamos no Itacanoeira. Os mais fortes jogavam os troncos de bananeira antes
e, ao pular, cada um nadava até o seu, montava e usava o guidão improvisado
para descer a correnteza do rio até a foz da Barra do Itaípe.
Devido
à sinuosidade passava de 5KM de “navegação” em meio ao manguezal e raras roças
incrustradas nas margens do lado esquerdo, porém do lado direito dava para ver canos
de esgoto poluidores e irresponsáveis, motivos de minha pele viver cheia de
perebas e das muitas surras da minha mãe para me convencer “fisicamente” a não
entrar naquele rio.
A
correnteza era fortíssima e não era fácil se manter na “moto-bananeira”. Chegávamos
nos fundos do Batalhão da PM, num local onde a correnteza era menos forte,
saltávamos e deixávamos as “motos” seguirem para o mar.
Os
meninos mais velhos sempre me convenciam a voltar pelo Centro Social Urbano,
por perto da margem, subir no “Cano Alto” (cuja água oriunda de uma represa no
Iguape, abastecia grande parte da cidade), por onde passávamos em baixo durante
a descida até o Batalhão, desviando dos pilares de concreto.
Todos
pulavam lá de cima, inclusive eu, mas apenas para me firmar como “homenzinho”
porque eu morria de medo, principalmente porque a correnteza arrastava muito
rápido para longe e nadar até a margem era um trabalho hercúleo!
O
Toinho tinha a mania de ir até o meio do rio e fingir estar se afogando. Nós
ficávamos aflitos porque não tínhamos como ir salvá-lo, mas, em seguida, ele
começava a rir de todos nós, uns dez meninos assustados e aborrecidos com a
brincadeira macabra e sem graça.
Num
final de tarde, após a descida com nossas “moto-bananeiras”, voltamos para a
Rua do Cano Alto, subimos nele, pulamos, voltamos para a, margem exaustos e o
Toinho, primeiro fingiu se afogar, depois riu de nós... Passava remando devagar
um canoeiro que se dirigia a um igarapé o Toinho segurou na popa da embarcação e
nos deu adeus!
Ainda
esperamos um pouco, mas a canoa se embrenhou mangue a dentro e fomos para casa.
No dia
seguinte, quando voltei da escola ao meio dia, vi a vizinhança consternada
porque encontraram o corpo do Toinho sem vida e cheio de siris de mangue se
alimentando dele...
Foi
terrível! Nós, meninotes, sentamos no point onde a gente se reunia para planejar
aventuras e choramos muito com saudade do Toinho, nosso líder, que fingia estar
morrendo para nos assustar, até que um dia não nos preocupamos e dessa vez foi
de verdade...
Meses
depois o meu avô, também, morreu (num gravíssimo acidente de carro, sendo que
ferroviário que era, tinha ojeriza de andar de qualquer outro meio de
transporte que não fosse trem. Minha avó disse que, após acabarem com o ramal
ferroviário da cidade, foi a primeira e última vez que ele andou de carro) e
voltamos para o Rio de Janeiro...
Tem
muitos “Toinhos” nessa vida que brincam com coisas sérias, deixam pessoas muito
preocupadas, até que elas se acostumam e não se preocupam mais e as pessoas “Toinhos”
viram saudade e estampa de camisa.
Ronaldo Rhusso