('Estamos de olhos nos bons para perdermos de vistas os maus'. Ronaldo Rhusso).
quinta-feira, 19 de junho de 2025
Naila
terça-feira, 6 de maio de 2025
Fruta-pão
Queria gostar do meu cachorro como ele gosta de mim
Queria vê-lo olhar pra mim na outra vida
Queria essa lambida divertidaQueria ser mais digno de ti, menino...
Ah! Como eu queria ser tão bom quanto tu és
Queria ter biscoito todo dia, te ver correr com a coruja
Teu brinquedo predileto...
Gosto tanto de pegar as torradas,
Dividir e te ver sorrir macio
Com o olhar assim feliz
Com pouco
Com nada
Tão lindo
Tão lindo
Que bom que te escolhi
No quintal do golpista
Andando todo bambo
E pensei: és tu, safado!
Tão lindo
Tão lindo
sábado, 3 de maio de 2025
Resenha de "Espólio" da Flávia Ferrari
Recebi o terceiro livro da Flavia Ferrari: Espólio
– Publicação independente como ela própria, Capa da Jéssica Iancoski e um conteúdo daqueles que a gente lê, relê e sabe comentar: é pura Poesia!
A fluidez com que os versos decorrem e vão escorrendo em forma de poemas vai saciando aquela sede/fome de Poesia escrita e bem dita de forma que faz a gente sentir um abraço e ouvir o sussurrar a nos dizer: "Eu sei! Também sinto isso"...
O poema que abre essa Obra cativante, “Arrima” pode passar despercebido apenas ao desavisado poeticamente, mas mostra a alma nua da poeta como a passar coberta apenas pela translucidez proporcionada por uma imaginária cortina transparente e, enquanto ela passa, lança seu olhar concorde como a dizer:
“é também a minha”...
Noto em seguida a efêmera fragilidade que completa a ideia do que será objeto da simplicidade, mas não simplória morada porque lar é lar e versos não precisam do rebuscamento matemático, apenas de um poema onde se encaixem e como se encaixam os da Flávia!
“ao humano, uma melindrada barreira
qualquer muro é menos dissimulado”
Em “Pontas de lança” aquela realidade caótica que restringe sem restringir, de fato, e a separação ou privacidade que deveria apenas ser combinada, precisa da imposição dos quase limites ou o que valha para garantir a tal inviolabilidade.
E a “iluminação”? A limitada luz que permite apenas ver os “intrusos” misturados ao abstrato do pensar filosófico acerca das coisas que ornam o recôndito ou a iluminação de metaforizar como um dom que metominiza as lucubrações mentais?
Demoro-me na prosopopeia que define as poltronas e vou observando cada cena, enquanto a poeta “ausculta” e descreve o papel dessas que “sabem quase tudo sobre os homens” e, deles, amparam ou protegem o “lar”...
“não aceito metades
do sono
do amanhecer
de você”
É como ela explica as “medidas” aceitáveis e depois confessa a “revelação” de seus olhos que brilharam quando os ouvidos captaram aquele “sim”.
Já o “Sal” nos faz corar.
Ainda há quem core, quem leia, releia, sorria e pense: nossa?
Eu sigo nesse deliciar-me com a leitura e me deparo com:
“a materialidade, essa sim, é toda ilusão”
A Eternidade? Quem sabe? Conforta e importa confortar, já a realidade, é caravana: passa.
Na “Vigília” a poeta comete a “extravagância” de sonhar reciprocidades e lembrou de se amarrar “na exuberância do primeiro enlace com o fervor do último toque”...
Observo a “Claraboia” em que tanto a poeta pensa, vê essencial, morta no “Futuro”, que já é, e algema a si mesma no diálogo só porque “a pele aprende rápido”.
Como entender o “Estanque” da paixão, a “Estreia” da novidade e olhar pelas “Janelas” da outra casa pensando nos costumes da cidade?
Alguém me disse que não entendo “Semântica”, já a Flávia, diz:
“Uso o amor, minha palavra coringa”...
No mais ela é “Reclusão” e “Dissocia”, afirma:
“queria um corpo-console-inconsciente
que dança se outros dançam”...
Eu também queria! E tu?
Curtiste essa pseudo-resenha até aqui?
Mas não viste quase nada, já eu aproveitei que a Flávia Ferrari confessou:
“: desejei tanto ar que ganhei asas”
E cheguei com ela ao final dessa leitura agradável, quase como um voyeur dessa alma mulher e o que mais quiser ser porque pode e me prendeu letra por letra, verso por verso, elevou-me com ela!
Conheça a Obra completa! Entre em contato:
https://www.instagram.com/fmferrari/
Ronaldo Rhusso
domingo, 20 de abril de 2025
Não há racismo?
Certa vez, não faz muito tempo, eu precisava
urgente ir de Paraty à Ubatuba e cometi o erro grave de ir com um amigo e sua,
então, namorada.
Ambos muito jovens, embora adultos, porém,
ele preto e ela de pele clara e feições muito sérias!
Ocorre que há um Posto da PRF conhecido por
ser bastante rigoroso na volta, ou seja, sentido Ubatuba/Paraty.
O erro grave consistiu em eu saber que
nenhum dos dois era habilitado e fui, assim mesmo, no banco do carona.
Fomos sem problemas com o jovem dirigindo,
tranquilamente.
Resolvi tudo rápido e voltamos, mas ao nos
aproximar do referido
Posto da PRF, eu disse:
- Brother! Troca de lugar com ela e vai lá
para trás!
Ele:
- Pra quê?
- Você é preto! Eles vão nos mandar parar e
vai dar ruim porque na melhor das hipóteses irão prender o carro do seu pai,
aplicar uma multa soberana, só liberarão o veículo para alguém habilitado e
ainda dará trabalho e despesas para retirar daquele pátio lá nos fundos do
Posto!
- Acha que vão nos parar só porque eu sou
preto? Você não diz sempre que eu sou um cara muito bonito?
- Sim, você é muito bonito, mas é preto e eu
não acho que irão nos parar, eu tenho certeza!
Ele se sentiu muito ofendido porque estava
me fazendo um favor e eu disse aquelas coisas acerca da cor da pele dele.
Menino muito bom, educado, vaidoso pra caramba!
Mas me obedeceu.
Em meu toba não passaria nem Wifi e fiquei
fazendo exercícios respiratórios sem que percebessem.
Já com a menina ao volante, passamos devagar
e ainda acenei para os policiais que não nos pararam.
O rapaz estava doido para voltar ao volante
uns quilômetros depois e eu disse:
- Calma! vamos mais à frente.
Ele estava agoniado e, do nada, mas muito do
nada, mesmo, uma viatura saiu de uma das muitas curvas em nosso encalço e
pareou ao nosso lado sem parar!
Eu só disse à menina:
- Respira devagar e vamos continuar
conversando, naturalmente...
Os PRF não fizeram sinal algum, mas,
simplesmente, ficaram mais uns seis quilômetros pareados conosco.
Não sei como a menina, que era inexperiente
ao volante, conseguiu ficar tão tranquila e sorridente com as besteiras que eu
ia falando para distraí-la, mas eu estava numa tensão monstra!
Erro estúpido!
Após nos pressionar psicologicamente por uns
6 quilômetros ou mais, pareados conosco em uma estrada tão deserta em dias de
semana, o PRF ao volante acelerou o potente veículo deles e, em segundos,
sumiram em nossa frente!
Nem lembro se os jovens chegaram a trocar de
lugar antes de chegarmos em casa, mas lembro que, inconformado com o que eu
disse, o jovem decidiu arriscar outra vez, porém com outras pessoas porque eu
me desculpei muito por ter incentivado dirigir sem a habilitação...
Óbvio que ele foi parado, esculachado e
humilhado, o carro apreendido, multado,...
Eu sou branco pra caramba porque raramente
tomo Sol e polícia alguma nunca me parou!
Aliás, minto, com outro amigo, esse
habilitado, houveram três abordagens:
A primeira foi na Ilha do Governador em uma
blitz em que estavam parando todos, sem exceção! Eu não sabia, mas a
documentação do carro do brother estava "atrasada" em alguns meses.
O PM prendeu os documentos por alguns
minutos e, em seguida, perguntou se nós queríamos "desenrolar"!
Eu disse:
- Sem chance! Cumpra sua obrigação.
Ele, que nem nos mandou sair do veículo:
- Tem certeza? Prefere, mesmo, todo o
aborrecimento?
- Não vamos lhe subornar. Esse cara que está
ao meu lado, inclusive, é meu líder religioso e, se ele lhe der dinheiro, o
denunciarei.
O PM ficou possesso, jogou os documentos
dentro do carro e mandou a gente vazar logo dali, o que fizemos rapidamente!
A segunda foi em Campo Grande! Um calor
terrível, gente igual a formiga ali no centro e eu fiquei no carro, enquanto
ele foi comprar uns materiais de trabalho.
Um PM chegou muito nervoso e disse:
- Não pode parar aqui!
- Por que, não? - Perguntei.
- Essa área tá reservada.
Conferi se era local proibido e não era. De
onde eu estava dava para ver a menos de cinquenta metros, alguns carros parados
em fila dupla, outros em faixas e eu disse:
- Sargento! E aqueles lá?
- Não se mete no meu trabalho! Vai saindo
logo daqui!
- Devido ao perigo de assaltos eu pedi ao
brother para levar as chaves e até esqueci que sem elas não daria para ligar o
ar-condicionado.
O policial surtou!
- Mas que k#$%#! Se eu voltar em meia hora e
você ainda estiver aqui vai dar ruim!
E sumiu.
Antes da meia hora do prazo dele, eu estava
lendo alguns panfletos dentre as dezenas que me entregaram ali, enquanto
esperava (eu pego tudo que é panfleto para ajudar, mas jogo no lixo sem olhar,
porém naquele dia eu li quase todos)...
- Você ainda tá aqui? Tá querendo zoar o meu
plantão?
Dessa vez eu fiquei em silêncio apenas
olhando para o servidor público que pegou um bloco de papel, começou a rabiscar
alguma coisa e, como estávamos regulares, nem liguei!
Meu amigo, finalmente, chegou, viu a
encrenca e eu disse:
- Não dá atenção e vamos embora! Liga esse
ar porque estou derretendo.
Deixamos o representante da lei falando
sozinho, contei o que aconteceu, meu amigo deu risadas e fomos embora!
A terceira vez foi em Santa Teresa, perto do
Hospital Silvestre, para onde eu estava levando uns resultados de exames!
Minutos antes, ainda na Avenida Brasil,
passamos em um buraco e o vidro do retrovisor do lado do motorista trincou e
num buraco mais à frente, quebrou de vez e caiu parte na via...
Já lá em cima um Sargento com um bafo de
cachaça soberano nos parou. Estava sozinho numa viatura. Ele nem tinha visto o
problema com o retrovisor e já veio pedindo "desenrolo"!
Falei:
- Estou indo para o Silvestre e tenho
horário marcado. Se puder ser rápido...
Ele ficou andando ao redor da S10 e viu o
retrovisor sem o vidro...
- É motivo para apreensão do veículo!
E ficou querendo o arrego para liberar
logo...!
Eu disse:
- Não vai rolar.
- Vou prender o veículo!
- Beleza! Vou chamar um taxi. Tem como me
dar uma carona na viatura para eu não perder o horário?
O cara pareceu ter batido em uma parede
invisível e ficou com a boca aberta me olhando incrédulo...
- Carona até o hospital? Tá de sacanagem
comigo a uma hora dessas? Vazem logo e não passem mais por aqui.
Voltamos pela Vista Chinesa, ali no Mirante
Dona Marta, que considero o lugar mais bonito do Rio e resolvemos o retrovisor
na Barra...
Se fôssemos pretos alguma dessas três
histórias acabaria assim?
Ronaldo
Rhusso
Folhinha Poética
terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
Das brincadeiras e lições...
Das
brincadeiras e lições...
Chamavam
o meu primo de segundo grau de “Toinho”. Lembro bem dele, um garoto de uns 13
anos sem medo de nada e muito engraçado! Eu tinha 8 anos, estudava no Diocesano
D. Eduardo havia poucos meses e o plano era ficar em Ilhéus.
Tem um
Rio, o Itacanoeira, cujo percurso se faz apenas em Ilhéus, formando um delta
com o Rio Cachoeira e o Rio Santana antes de chegar ao mar via Baía do Pontal
numa foz e, na outra, desaguando no mar do Norte, ali na Barra do Itaípe num
brevíssimo flerte com o Rio Almada.
Eu
costumava seguir o “Toinho” e seus amigos até o Seminário São Jorge dos Ilhéus,
no Fundão, entrávamos na mata, cortávamos toras de bananeira, os meninos mais
fortes colocavam pedaços de galhos numa das extremidades de cada tora para que
se parecesse com um guidão e íamos levando-as até uma ponte ali perto, da qual
pulávamos no Itacanoeira. Os mais fortes jogavam os troncos de bananeira antes
e, ao pular, cada um nadava até o seu, montava e usava o guidão improvisado
para descer a correnteza do rio até a foz da Barra do Itaípe.
Devido
à sinuosidade passava de 5KM de “navegação” em meio ao manguezal e raras roças
incrustradas nas margens do lado esquerdo, porém do lado direito dava para ver canos
de esgoto poluidores e irresponsáveis, motivos de minha pele viver cheia de
perebas e das muitas surras da minha mãe para me convencer “fisicamente” a não
entrar naquele rio.
A
correnteza era fortíssima e não era fácil se manter na “moto-bananeira”. Chegávamos
nos fundos do Batalhão da PM, num local onde a correnteza era menos forte,
saltávamos e deixávamos as “motos” seguirem para o mar.
Os
meninos mais velhos sempre me convenciam a voltar pelo Centro Social Urbano,
por perto da margem, subir no “Cano Alto” (cuja água oriunda de uma represa no
Iguape, abastecia grande parte da cidade), por onde passávamos em baixo durante
a descida até o Batalhão, desviando dos pilares de concreto.
Todos
pulavam lá de cima, inclusive eu, mas apenas para me firmar como “homenzinho”
porque eu morria de medo, principalmente porque a correnteza arrastava muito
rápido para longe e nadar até a margem era um trabalho hercúleo!
O
Toinho tinha a mania de ir até o meio do rio e fingir estar se afogando. Nós
ficávamos aflitos porque não tínhamos como ir salvá-lo, mas, em seguida, ele
começava a rir de todos nós, uns dez meninos assustados e aborrecidos com a
brincadeira macabra e sem graça.
Num
final de tarde, após a descida com nossas “moto-bananeiras”, voltamos para a
Rua do Cano Alto, subimos nele, pulamos, voltamos para a, margem exaustos e o
Toinho, primeiro fingiu se afogar, depois riu de nós... Passava remando devagar
um canoeiro que se dirigia a um igarapé o Toinho segurou na popa da embarcação e
nos deu adeus!
Ainda
esperamos um pouco, mas a canoa se embrenhou mangue a dentro e fomos para casa.
No dia
seguinte, quando voltei da escola ao meio dia, vi a vizinhança consternada
porque encontraram o corpo do Toinho sem vida e cheio de siris de mangue se
alimentando dele...
Foi
terrível! Nós, meninotes, sentamos no point onde a gente se reunia para planejar
aventuras e choramos muito com saudade do Toinho, nosso líder, que fingia estar
morrendo para nos assustar, até que um dia não nos preocupamos e dessa vez foi
de verdade...
Meses
depois o meu avô, também, morreu (num gravíssimo acidente de carro, sendo que
ferroviário que era, tinha ojeriza de andar de qualquer outro meio de
transporte que não fosse trem. Minha avó disse que, após acabarem com o ramal
ferroviário da cidade, foi a primeira e última vez que ele andou de carro) e
voltamos para o Rio de Janeiro...
Tem
muitos “Toinhos” nessa vida que brincam com coisas sérias, deixam pessoas muito
preocupadas, até que elas se acostumam e não se preocupam mais e as pessoas “Toinhos”
viram saudade e estampa de camisa.
Ronaldo Rhusso