domingo, 4 de março de 2012

Àqueles que nos doaram conhecimento (Republ.)






Hoje recebi mais um daqueles e-mails “prontos” indignados com a condição dos professores de escola pública!

O autor do e-mail deve ter sido ovacionado por aqueles que escolheram essa profissão acreditando, talvez, que algo mudaria e eles viriam ganhar algum dinheiro, além de que constatariam o fato mais surpreendente na história da humanidade contemporânea, ou seja, o fim dos “alunos” marginais e o interesse dos governos no aprendizado por parte da população que os elegerá no futuro!

Falemos do ganhar dinheiro:

Eu sei que só tenho 43 anos de idade e por isso, provavelmente, eu desconheça a existência de algum professor que tenha ficado rico a partir do seu salário;
Na Antiguidade os professores eram bastante valorizados! Tanto que eram escravos cultos, comprados por alto preço para esse fim, ou servos obstinados a transmitirem seu conhecimento a futuros reis ou governantes...

Você que está lendo já ouviu ou leu algo acerca de algum professor que tenha ficado rico à custa do salário? Eu sei que não.

Concluímos que essa não é uma profissão para quem deseja enriquecer e eu estou mencionando o verbo transitivo enriquecer pelo fato de que o autor do e-mail que gerou esse texto o tenha usado de forma irônica, mas eu o faço de forma racional.
“Alunos” marginais já transitavam nas salas de aula há séculos, mas era minoria e eram tratados como casos relacionados com a segurança pública.

No Brasil temos o ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente – que protege esses bandidos; foi criado em 1990 e não por acaso foi o divisor de águas no sentido de legalizar o banditismo infanto juvenil.

Meu primeiro emprego foi aos nove anos de idade (quase dez). Eu me sentia super importante como auxiliar de pintor mecânico! A minha mãe, a dona Bernadete, me olhava toda orgulhosa quando eu chegava em casa com a roupa encardida, cansado, mas cheio de novidades para contar: “- Caraca, mãe! Hoje eu ganhei um dinheiro extra trocando o pára-choques de um carro de um ricaço! Ele me deu quase o valor do meu salário da semana! Olha só!”

Eu nem precisava trabalhar, mas a minha família entendia que para que uma criança respeitasse um profissional ela deveria aprender uma profissão logo cedo, ainda que não fosse exercê-la no futuro, porque só é capaz de respeitar um trabalhador quem é trabalhador e eu tinha e ainda tenho um respeito enorme por todos os profissionais que se dispuseram a dividir comigo a maior riqueza que eles tinham, ou seja, seu conhecimento!

O ECA decretou a vagabundagem juvenil!

Misturou (ou confundiu) trabalho escravo com trabalho digno e necessário para a formação e valorização da pessoa!
Hoje a ociosidade faz com que sobre tempo para maquinar o mal.
Os videogames ensinam de tudo um pouco; a televisão...

Eu jamais entraria numa sala de aulas para arriscar a minha vida e na melhor das hipóteses, a minha saúde, pois os consultórios psiquiátricos estão abarrotados de professores e não é por causa do salário, mas por causa do inferno que é uma sala de aulas!

Quando vou numa escola pública, na condição de palestrante, não saio sem comparar aquele recinto com um manicômio!

Em relação aos governantes do planeta desejarem que seus eleitores de agora e do futuro sejam incapazes de entender o que é caráter, honestidade e ética, além de patriotismo, bem como a importância dessas qualidades em um ser pensante, tem motivação óbvia e desnecessário se faz tecer qualquer comentário a respeito...

Onde está a Disciplina Educação Moral e Cívica?

Ah! Era coisa dos militares...

Não precisamos mais disso em nossas escolas “democráticas”.

Ser professor está muito acima de ser um profissional! É missão! Sou Missionário proselitista e estou em extinção da mesma forma que estão em extinção verdadeiros professores!

Hoje o nome que se dá é “Educador”!

O que é um educador?

Minha mãe era a minha educadora e ainda hoje a consulto quando preciso tomar alguma decisão difícil!

Então se a pessoa é educadora e não é pai ou mãe do educando é babá!

Qual o piso salarial de uma babá? R$ 622,00 (seiscentos e vinte e dois reais)?

Ora! Uma babá geralmente é contratada para cuidar de uma criança ou quando muito de duas ou três!

É uma profissional exclusiva! Quanto ganha um professor exclusivo?
Já dei aulas particulares e cobrava muito caro para isso!

Tente imaginar uma babá para quarenta adolescentes ou crianças!

Não. Professor não é educador. É mestre!
Mas como dizemos no Surf: existem os profissionais e os de alma!

Ser professor é acima de tudo ser um bravo e eu, embora tenha muito conhecimento e formação para tanto, me considero incapaz de exercer essa Missão numa sala de aulas, a não ser com uma escolta policial que não seja corrupta.

Onde eu acharia uma escola que fornecesse escolta policial? E ainda por cima não poderia ser corrupta!

Sei.

Minha solidariedade e homenagem a esses bravos de giz e apagador nas mãos!


Ronaldo Rhusso



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