segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Instantâneo...

Desato os feixes de cores
que reverberam em meu sonso olhar...
Desato a louvar o Altíssimo
pelos dons que Ele concede!
Transmutar olhos em ouvidos,
palavras em sussurros,
delírios no sentir frenético e raro...

Ah! Inspiração que erradia euforia e 
avilta o tempo e o espaço!
Ah! Quimera ansiada e entronizada
no íntimo do ser...

Abismado e em sonho contemplo o jardim rico e lindo!
O jardim é pra mim duplamente importante
e é meridiano!

Da roseira mais nobre escolhi uma rosa olorosa e macia;
tão rosinha e enfeitada por pólens lisinhos!

Ela treme e se encolhe ao meu toque gentil
que, de longe, ressente feliz terno toque.
É a rosa que é rara e que inspira esses versos;
rosa inteira entre caules marfim-salmonados.

"— Ei Nirvana! Eis que és pouco e me rio de ti"!

Não concebe o meu gozo inefável, coitado...


"— Tu sorris, minha musa"?

Eis que a dor não supera esse brilho no olhar
que pressinto daqui, do covil de poeta
que é o salteador desse corpo, ora frágil.

Arrepio me percorre ao provar dessa trama
ideada nos meus mais profundos recônditos!

"— Mera pausa, ó Prenda"!

"— Hora de conversar com quem há de fazer
tua dor desistir de morar ao teu lado"...

Ronaldo Rhusso

Que pena...

Destoo das hordas descrentes
E entoo um canto pro céu.
Ali haverá o discurso
Que soa qual dor para uns
E para outros só dissona?
Alterco sem nódoa no sangue,
Mas penso no turno perdido
Porque se sou cego também
Eis explicação pro distúrbio.

Eu vejo uma raça apenas!
Se a tez é escura e aí?
Sou pálido e fico vermelho,
Mas há o amarelo, ora, pois!

Aquele nasceu noutro corpo?
Então curta a vida que é curta
Porque corpo errado é praga
E eu nunca irei compreender,
Pois que eu não calcei o sapato...

Pra moda eu dou é banana!
Pro humano eu olho agitado
E não vou deixar de elevar
A prece por cada irmão
Que não reconhece o do lado
Como um seu igual no Universo...

Ronaldo Rhusso 

sábado, 10 de dezembro de 2011









E T de mim...

Ela não sabe a dor que tenho em mim...
Como entender alguém na tela fria?
Sei, sou, de fato, um raio em Poesia

E isso é tudo ou nada ou pouco, enfim...

Não sou metade dessa fama assim
Tão degradante ao ser que sou. Diria:
Tudo não passa, ao certo, de magia
Onde as palavras, cúmplices, são o fim...

Quando eu morrer serei logo esquecido
Não porque eu tenha feito quase nada
Ou por não ter mudado de estrada.

Será por causa desse mal sentido;
Desse ser tanto sem jamais ter sido
Ou por ter vindo à Terra em hora errada...


Ronaldo Rhusso

domingo, 4 de dezembro de 2011







Adeus!

Quanto vale um carinho igual ao teu?
Foi o meu cavilar nessa manhã...
No afã de, em meu ninho, ser só eu
É que deu-me o pensar em coisa vã.

Eu sou fã do jeitinho epicureu
Quase ateu, teu, de dar ao amanhã
Cores chãs de um caminho ao apogeu
Sem o breu, turvo mar, pobre titã...

És irmã da alegria de viver
Pois teu ser é tão cheio dessa luz
Que reluz noite e dia em minha vida...

Ah! Querida... Com receio por não ter
Merecer de tua guia que conduz
É que expus nesse enleio a despedida...

Ronaldo Rhusso

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

MÓRBIDO - Com Marcos Loures








Eu sei que meu caminho está no fim,
Por isso é que despejo este soneto
São versos que ao vazio, eu arremeto,
Tentando alguma flor; pobre jardim.

A morte me rondando, diz que sim,
Os erros tão freqüentes que cometo,
No fundo, estou sem tempo, mas prometo,
Em pouco tempo acaba tudo, enfim...

Houvesse alguma chance de sonhar,
Vagar por mil estrelas; nebulosas,
As horas tão sutis e melindrosas,

Numa esperança sólida embarcar...
Mas sei que no final não serei nada,
A carne apodrecida e destroçada...

Marcos Loures

Também eu já me encontro na beirada
Do limiar que faz separação
Entre o viver sofrido e a desgraçada
Da morte que me quer plantar no chão.

Ainda assim eu nem lamento nada!
Vivi intensamente e com paixão!
Também achei de dar muita mancada,
Mas quer saber? Eu me arrependo, não.

Sorvi mulheres lindas, paraísos!
Até chapei pra ver o céu girar!
Se a morte me quiser pode levar!

Eu traço ela, também, garanto em risos,
Pois sei que ela é mulher e se tem guizos,
Serpente mal comida, eu vou domar!

Ronaldo Rhusso


Não temo esta maldita, mas procuro
Vencer os meus anseios naturais,
E o quanto nestes versos demonstrais
Traduz um solo fértil, porém duro...

Por mais que inda pareça mais seguro
O fim adentra a sala e nos vitrais
Presumo os erros tantos, funerais,
De quem neste cenário- a paz- conjuro.

Mas sei que na verdade de tal forma
O quanto pouco a pouco me transforma
Expressará num ato mais voraz,

Num etéreo vagar, renascimento,
Uma esperança além, busco e fomento,
E eternidade da alma, o vento traz...

Marcos Loures

Temer pra que se o fim é virar pó?
Querido, ela liberta e a foice é bela!
Só sei dizer que tu não estás só;
Eu transporei, também, essa janela.

Estou tranquilo e sei cantar em dó
Uma canção que fiz pr’essa magrela.
Serei pesado como a pedra mó
E afundarei o corpo e a foice dela!

Eternidade já começa agora
E até me sinto bem, com dor e tudo!
Eu sou poeta e não vou ficar mudo!

A poesia fica e em cada aurora
Renascerá enquanto a noite chora.
Sonetos eternizam... Nosso escudo!

Ronaldo Rhusso

Embora muitas vezes em meu olhar
Reluza esta esperança em brilho farto,
O sonho mais audaz jamais descarto
E sei do quanto é justo mergulhar,

E o tempo após o tempo a revelar
Cada palavra como fosse um parto,
Porém na solidão do velho quarto,
Às vezes é difícil o imaginar,

Porém quando renasce dentro da alma
A força que sublime vem e acalma
Trazendo a divindade mais sublime,

O passo se tornando bem mais firme,
E tendo esta certeza que redime,
A viga a cada dia se confirme.

Marcos Loures

A esperança é linda se decorre
Da fé que alimenta essa aliada
Que dizem ser a última que morre,
Mas se ela morre já não resta nada.

Contudo eu sou teimoso, sou um porre
De ilusão, quimeras, camarada!
Sou um guerreiro e sou o que não corre
De desafios. Topo essa parada!

A gente, então combina, de repente,
Quem for primeiro para o Paraíso
Aguarda o outro na porta c’um sorriso!

Assim eu nem lhe peço “vá na frente”,
Pois com teus avalanches és latente
E tens que ficar mais. Sincero eu friso!

Ronaldo Rhusso


Em consonância a vida prosseguindo
Na nova etapa além que se produza,
Do brilho que deveras nos conduza
Ao Paraíso etéreo, raro e lindo,

Aos poucos nas palavras vou fluindo
Usando ou abusando de uma Musa,
Que possa na verdade ser confusa,
Ou mesmo num anseio quase infindo,

Não há decerto o quanto mais temer,
É necessário em luz se esvaecer
E transcender à própria persistência

Que possa nos trazer em dimensão
Diversa a mais completa sensação
Do eterno caminhar em rara essência.

Marcos Loures

De fato essa é a idéia que sustento:
O eterno caminhar em rara essência!
Porque somos tão fortes que o lamento
Deixamos para a prole em decadência!

Nosso rimar conciso tem fomento
Em cada Musa nobre ou não. Paciência!
Confesso que às vezes as invento
Será isso princípio de demência?

Se for morrerei louco e feliz!
E essa é uma grande sensação:
Morrer desnudo de toda a razão!

“Aqui jaz outro louco, outro aprendiz
Que deu à vida um novo e bel’ matiz”
É o que na minha pedra escreverão.

Ronaldo Rhusso

A vida se refaz e nisto vejo
Além do quanto seja mais palpável,
O sonho se fazendo sempre arável
Traduz em plenitude este desejo,

Do mundo aonde trace em azulejo
O canto que se trame incomparável,
E nisto nosso verso imensurável
Reflita muito além de algum lampejo,

Em epitáfio traçaremos luzes
E mesmo quando se aproximem urzes
Os passos seguem sempre mais audazes,

E quando não restar sequer o pó,
Nos versos e delírios, jamais só,
Co’alento que deveras tu me trazes.

Marcos Loures


O pó ao vento vai ser relegado
E muitos dele, sei, aspirarão.
Algum deles há de, muito inspirado,
Continuar com zelo essa Missão!

E a morte perderá, pois é seu fado!
Ela não pode ir na contramão
Desse caminho que temos traçado
Com gana, com amor e com paixão!

Contribuímos para um mundo novo
Com clássica maneira de expressar
A mais perfeita forma de rimar.

Alguém em meio a todo esse povo
Entenderá: Soneto é um renovo
E o tempo a ele não vai apagar!

Ronaldo Rhusso


Por mais que tentem mesmo relegar
Ao mais ínfimo plano a poesia,
A vida se renova e a cada dia,
Num cíclico caminho a se mostrar,

E assim, porquanto possa em nobre altar,
O tanto que por certo moldaria
A face mais sutil da fantasia,
O verso nos impele a caminhar.

E assim, numa semente germinada,
Aonde se imagina houvera nada,
Uma eclosão de luz se faz presente,

E mesmo quando em ossos resumido,
O canto, ainda assim será ouvido,
E a morte sendo morta, plenamente...

Marcos Loures


O destino da morte é ir pro “sal”!
Ela não vai durar, garanto, amigo!
A Poesia sim é eternal
E para mentes nobres, doce abrigo!

És um Quixote ímpar, sem igual
E nesse versejar, trazes perigo
A todos que persistem no ideal
De não rimar, dizendo: “não consigo”!

Essa modernidade é até bem vinda,
Mas que nunca nos falte c’o respeito
Porque de fato é duro e tolo pleito!

Não querer aprender à mente blinda
E torna essa ignorância a sina infinda
Abrindo para a morte o farto peito.

Ronaldo Rhusso


Em nome do que seja modernismo,
Soneto se destroça, rudemente,
E o que deveras vejo e em dor se sente
No fim se apresentando em cataclismo,

Mesmo Drummond, Bandeira, sem cinismo,
Seguiram velhas regras, claramente,
Quintana também mostra este evidente
Caminho sem o qual, volátil, cismo.

Porém os ditos neo-sonetistas
Que aqui, ali, além; aquém avistas,
Num sintoma cruel de incompetência

Ou mesmo de preguiça, não sei bem,
Milagres no vazio sempre vêm
E, pior, nunca admitem a evidência.

Marcos Loures


Não liga! São somente uns coitados
Que tentam percorrer nosso caminho
Sem atentar que são desafinados
Mas precisamos dar-lhes um carinho...

Que não se sintam, eles, rejeitados!
O poço onde bebemos é pertinho
E lá, eis, poderão ser saciados
Ou afundarem em vão “talentinho”!


Querer não é poder, disso sabemos.
Mas tem quem não consiga crer, que pena!
Será que têm a alma tão pequena?

Vai ver só loucos creem no que cremos.
Se for verdade, amigo, o que faremos?
Derramaremos mais poesia plena!

Ronaldo Rhusso



É como respirar, tu sabes bem,
A poesia doma e a gente segue,
E a vida de tal forma assim prossegue
Ainda quando a sorte amarga vem,

Poreja em cada verso, o que contém,
E na alma este cenário além navegue
E mesmo que decerto o brilho cegue,
Na luz o quanto sei e nos convém,

Ousar acreditar e ser feliz,
Ao tatearmos tudo o quanto possa
Trazer esta certeza viva e nossa,

Do mundo que nos sonhos, tanto quis,
Sendo inerente a voz em consonância
Espero que traduza ressonância.

Marcos Loures


A ressonância eu já ouço, feliz!
À consonância que nos une em versos
A própria natureza pede bis,
Pois sente-nos, em recriar, imersos.

Mesmo que fôssemos assaz dispersos
Num rabiscar a vida toda em giz
Assim qual fiz em versos, que, inversos
Mostra o Soneto em um outro matiz!

Percebo o desagrado intolerante
Do tipo que jamais eu percebi
como se eu fosse tolo, mas me ri!

Amigo é sempre bom e estonteante
Compor contigo e espero doravante
Continuarmos. Hoje encerro aqui!

Ronaldo Rhusso

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Estrela 
de nome amor!

Lembrei de Adão e seu pleno poder de escolha...
Por que morrer com Eva se foi ela quem errou?
Mas eis que a razão já não podia explicar.
E o lindo Paraíso não faria mais sentido...
As vidas desses pais estavam tão entrelaçadas!

O bravo Lampião vivia com seu braço forte.
Há mesmo, até, quem diga que a mente era ela!
Pra que morrer assim, me diz, ó moça tão bonita?
 Pra que perder linda cabeça invés de esperar em casa?
As vidas desses bravos estavam tão entrelaçadas!

Pensei em te deixar, seguir de encontro ao infinito.
O plano era certeiro e minhas malas eram prontas...
Doeu-me teu chorar e comovido dei o grito:
Permite, ó Eterno, que eu fique um pouco mais!
Pois eu e a poesia em entrelaço nos casamos...
Eu vi meu nome e o dela
cravejados numa estrela
denominada
amor!




Dominou Números




Inverso ao vinte e quatro
Achou-se em dezessete
Amando a mil por hora
Veloz e por inteiro...

De vinte a dezesseis
A queda foi real.

Andou bem só com dois
Até rolar em quatro.

Três dias e três noites
Ressuscitou, morreu,
Inverteu sem querer...

Do um já não sai mais.

Ronaldo Rhusso


domingo, 9 de outubro de 2011

Outro de amor...






Realidade...

Sei que anjos veem distante,
Mas cadê que eles se enxergam?
E quando suas asas vergam
Pode haver ser mais massante?
Não suporta um rasante...
Já não pode proteger
A si mesmo ou outro ser,
Pois com fim já decretado
Vai definhando calado;
Vai morrendo sem morrer.


Anjo velho e imprestável
É enfado ao Universo!
Antissocial, disperso
Do real. Que lamentável!
O passado, memorável,
Fica até envergonhado!
Fica desmoralizado
Pelo atuar escasso
Coroado de fracasso
Digno de ser lamentado...


Sobe frágil a montanha
E o olhar fica perdido
Fixo em algo já vivido:
Em uma antiga façanha
Que foi grande, foi tamanha
A ponto de ser lembrada,
Mas que já não vale nada
Porque sabe em seu eu
Que passado é pra museu
E pra alma amargurada...


Homem Raio envelhece
E se torna olvidado.
Sabe que ser rejeitado
É algo que lhe acontece
Porque de fato merece.
Sabe que não tem futuro
E que mesmo sendo duro
Escutar o coração
A dizer-lhe um outro não
É melhor que um sim escuro...


Resta-lhe olhar pra frente
Porque ele ainda tem brio
E encara a sangue frio
Sua condição recente,
Pois se é anjo é decente
Mesmo velho e dispensável.
Anjo é sempre um ser amável
E consegue até sorrir
Do inútil existir;
Tem um humor invejável!


Quando declarou amor
Uma ou outra vez na vida
Foi um sentir sem medida
Cheio do mais puro ardor
Do tipo que dói sem dor!
Para toda uma existência
Amar e com excelência
Duas vezes é tão raro
Que para encerrar declaro:
É uma linda experiência!



Ronaldo Rhusso